Mioquim, sujeito pacato, simples mesmo, simplório, “humirde”. Nascido e criado em Brejo Preto Largo, no meio da floresta, melhor, na mata fechada, na cidade de Brejão, tudo lá para as bandas das Minas Gerais.
Um dia uns primos estiveram em visita a Mioquim. Visita rápida, um dedo de prosa, conversa mole para lá e para cá, pitadinha de fumo de corda e os primos que moravam no Rio de Janeiro fazia algum tempo convidaram o incauto, o ingênuo para passar uns dias na cidade maravilhosa. Aceitou, mesmo com a compreensível mistura de medo, ansiedade e curiosidade.
A “muiêr” Zoinha não quis ir. E lá se foi Mioquim.
Melhor roupa, chapéu de palha, capim na boca, primeiro triste, depois sorri para Zoinha o melhor sorriso, de dente a dente, usou os dedos para mostrá-los, um de cada lado, lá no fim da boca.
Muito cedo sai, hora e meia a andar, cobras mortas, onças espantadas, raposas que correm, chega ao rio. Mais meia hora de nado, duas horas a cavalo, três de trem, 20 de ônibus sem leito, mas com banheiro. O perigo é esquecer-se do buraco na casinha e cair na estrada. Lá para as tantas, para as tantas mesmo chega ao Rio.
Os primos passeavam com ele pelo Rio, Corcovado, Cristo, mulatas. Rapaz, Mioquim endoidou. Não “tirava” os olhos das curvas das mulatas, em todos os andares, estava maravilhado.
E as mulatas sambavam, sambavam e sambavam na frente, mais no rosto de Mioquim. Depois ainda meio tonto Mioquim foi assistir um show de strip tease.
Dança sensual, a garota quase que estoura com o coração do mineirinho. E mais ainda com os olhos. Babava. Jamais havia visto nada parecido. Nem mesmo nos “galanteios” do galo Napoleão ao tentar namorar a galinha Mariazinha.
Menos ainda no namoro da gata bonitinha com o gato Xitão. Precisava fazer uma coisa dessas com Zoinha.
Pouco tempo depois lá estava Mioquim em casa. Cansado da maratona, porém caboclo rude acostumado a muitas desventuras, trabalho pesado, a vontade foi mais forte. A noite, pediu para sua “muier” vestir umas roupinhas “sensual” como disse seu primo Noquinha, quando ajudou a comprá-las.
A mulher Zoinha, desconfiada que só, moço, perguntou a Mioquim, “O que ocê quer com isto Mioquim?. Cala a matraca, muier e veste a roupa.
Alguns minutos depois aparece Zoinha toda vestida, sorriso incompleto (faltam quatro dentes na frente, nos dois andares), envergonhada.
Mioquim olhou, analisou e para melhorar o ambiente pegou aquele disco de vinil “Saudade do Matão”, colocou na vitrola que fora de seu bisavô, que passou para o vô, que deixou de herança para o pai e que um dia será do filho de Mioquim. Se outro disco não colocou é por que a vitrola não conhece essas músicas modernas e não sabe tocar. Uma vida com a família de Mioquim já sabe o que eles gostam.
Música baixa ao fundo, quase um sussurro, clima romântico Mioquim olha a mulher e diz. Zoinha, dá uma volta. Ela diz, Mioquim que conversa é esta home? Agora tira a brusa, diz Mioquim. Que conversa é esta, Mioquim. Tira a brusa muier. Ela tirou. Dá uma volta. E assim fez Zoinha. Agora tira a saia. Sorriso maroto, Zoinha fala, que isso, Mioqum, as crianças podem chegar aqui. Cala a boca, muier e tira a saia. Zoinha tira. Agora dá uma voltinha. Mioquim o que ocê ta pensando, home? Dá uma voltinha, muier.
Agora tira o sutiã, diz Mioquim. Zoinha misto de desconfiada e ansiosa tira o sutiã. Dá uma voltinha. Agora tira a calcinha. Zoinha toda à vontade, esperando o melhor tira a calcinha. Mioquim olha, pede para dar uma voltinha, depois pede para dar outra voltinha, pede para andar até a porta da sala, depois até a porta da cozinha, depois volta para a porta da frente e, por final, pede para dar outra voltinha, e outra volta, agora pelo lado contrário, pede para ficar de lado, de costas, do outro perfil, outra voltinha e finalmente diz:
Muier, tu é mesmo uma merda.
Como dizia o folclórico ex-presidente do Corinthians Vicente Mateus. “Um dia é da caça outro do pescador.”
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