O português é o culpado

Férias, coisas bonitas para se ver e seis garotas da Paraíba enxergam o guia turístico e começam a dizer: ai se eu te pego, delícia, delícia. E o sujeito parece que nem sabia. Agora sabe ou devia saber.

O tempo passa o tempo voa e a frase à-toa, sem utilidade, ganha força e faz jorrar a “bufunfa”.

Um pouco adiante no tempo, terra feia, sem água, sem capim e sem boi. Apenas algumas cabras. Jovens conversam sob a proteção da folhagem da árvore.

Sol escaldante, não se pode ver muito além. A imagem fica nublada e a conversa gira em torno de um show que será realizado na cidade. Pensam em ir. A Prefeitura vai bancar a farra.

No blá, blá da galera a banda de forró que vai se apresentar em Cabrobró.

Jeruso, isto mesmo, Jeruso comentou com Chico de Benzoca: Ôce vai pru forró? Sei não Jeruso. Tô cansado pra gota da muléstia. Capinei o dia todo, seu moço.

Pô, não nega fogo, cabra. Vai tê forró a noiti toda com a banda, cumê o nome memo? Cagalha de Jegue, disse Jeruso. Cabra de miolo mole, é Cangalha, chibungo, esculhambou Chico de Benzoca. Mas é Cangaia, cambada.

E qual a música mais meior dos cabras? Pergunta Jeruso. Não sei não. Tem uma que é... tem outra que dança assim, ó, e chacoalhou Chico de Benzoca.

Que isso, cabra. Não rebola que o povo pensa que tu é pirôbo. Fala Jeruso. Colé, comedor de cabra. Se assunta.

Nisto, um sujeito passante escutava a conversa “escorreita” da dupla e ficou intrigado. Ô rapaz, dou cinqüenta pilas se tu falar uma única palavra certa.

Cuma? Surpreendeu-se Chico de Benzoca. Ah, rapaz, já errou. Adonde, disse Chico de Benzoca. E o passante se foi como chegou; sem ser notado.

E a conversa foi “ficando” longa, e os cabras fatigados, capim no canto da boca, chapéu de palha meio baixo, desleixado, barba por fazer, olhos vermelhos de sol e lua, pele marrom brilhante, adormeceram.

“Musiquinha” sem grandes talentos lingüísticos, diminuta nos versos e nas suas quantidades, gravada não faz tanto tempo assim, por banda de forró da Bahia,
a Cangaia de Jegue. Forró ali, aqui, acolá e mais acolá ainda, e ninguém mais falava, se é que falavam alguma coisa. Alexandre Peixe também gravou. Passou batida.

Mais um pouco de tempo depois um cabra, mistura de inglês Michel e sabe o que mais, Teló (sem o assento significa jumento – alguma lembrança???) grava música com nome pouco expressivo, letra marrenta, sonolenta, erros e mais erros.

Ouve-se um pouco aqui, outro acolá, melhor sucesso que no forró. E os autores? Os mesmos. E um sujeito muda tudo, o único culpado: Cristiano Ronaldo. Ao realizar coreografias (ele e Marcelo) com a música, após um gol do Real Madrid (em verdade o nome do clube é apenas Madri ou Madrid), o mundo soube da “musiquinha”. Igual a Macarena. Explodiu em toda parte.

Depois de Cristiano Ronaldo ouviu-se muito mais acolá. Até russo, japonês, australiano e chinês cantaram.

Faz um pouco de tempo ouviu-se alguém a cantar em inglês. Gravou. E ainda se gravará em outras linguagens.

Teló canta e dança em estádio, ginásio, terreiro de candomblé, igreja presbiteriana, evangélica, católica, em qualquer lugar. É só chamar. Talvez seja o único sucesso de sua vida. Daqueles de um único sucesso. A história conta aos montes, às pencas. Parece o programa de Luciano Hulk: Agora ou nunca.

Poder-se-á ouvir em muitas paragens. Se deixarem. O risco de ser processado é enorme.

E o sucesso tem preço: Seis paraibanas.

Antes um pouco de história ou estória, ainda não se sabe. O tempo reconhecerá.

"Ai Se Eu Te Pego", é canção composta e produzida por Sharon Acioly, animadora do Axé Moi (um palco montado na praia de Porto Seguro) e também autora de outro grande sucesso, o funk "Dança do Quadrado", e Antônio Dyggs,

Pelo menos até recentemente não havia dúvida.

A primeira versão da música apareceu no final de 2008 em Porto Seguro, no litoral sul da Bahia. A composição virou música com a banda Meninos de Seu Zé, empresariado por Dyggs. Na época, a letra era diferente. Em vez de 'sábado na balada', eles cantavam 'sábado na Kabana', que é a casa noturna que eu tenho aqui em Feira de Santana", explica o compositor.

A canção foi interpretada posteriormente pela banda Cangaia de Jegue em 2010. E por final Michel Teló a gravou recentemente.

É de notar-se que a gravação da banda Cangaia de Jegue em 2010 não obteve grandes repercussões.

Alguns meses atrás três garotas da Paraíba descobriram que faz cinco ou seis anos disseram para o guia que as acompanhava em viagem ao exterior, ai se eu te pego, delícia, delícia.

E por conta disso, acordaram com os autores uma piaba nos lucros. Sensato. Discussão judicial apenas traria prejuízos ao longo dos tempos, no caso concreto, porquanto música tem tempo de vida útil, na maioria das vezes.

Parecia tudo resolvido.

E Teló cantou, cantou e mais, dançou, dançou. Até para austríaco cantou e dançou.

Ai Se Eu Te Pego" chegou à primeira posição na Espanha, Holanda e Itália, e alcançou as dez primeiras posições na Suiça, deixando para trás grandes nomes da música mundial. Também detém o recorde ao ser a canção brasileira com maior número de visualizações do Youtube, com mais de 100 milhões de acessos.

A revista Forbes comparou o Michel Teló ao sucesso de Carmen Miranda, e a mesma fonte diz que o cantor teria faturado mais de 18 milhões de dólares em 2011.

Despertou os sonâmbulos.

Aquelas outras paraibanas que ficaram de foram do acordo e não receberiam “necas de pitibiribas” “chiaram”. E muito. Paraiba masculina sim senhor tiraram a peixeira da bainha e...

Aconselhadas, ingressaram em juízo. Claro que somente por desencargo. Enfim, “jogar para a torcida”. Fiz a minha parte. Difícil conseguir alguma coisa.

Aconteceu o que não se poderia imaginar.

Juiz da Paraíba, em lide sobre DIREITOS AUTORAIS, ordena a retenção de valores referentes à música. Imagine: Cachês, renda das vendas de DVD, CD, entre outros investimentos e recebimentos.

O sujeito trabalha de segunda a segunda, morre de dançar e cantar. Ouve em inglês, russo e japonês. Sorri para cobras, ursos, jacarés. E onças.

Quase não dorme. E agora, ao chegar ao Brasil, recebe esta galinha pulando.

E é verdade. O juiz decidiu. Todos os valores que se refiram a ganhos sobre a música serão retidos. E se a pendenga durar alguns anos. Ou será que esta decisão facilita o acordo.

E quem garante serem verdadeiras as afirmações. E todas pensaram a mesma coisa, ao mesmo tempo? E a razão de nada pleitear, quando Cangaia de Jegue gravou. E nos cânticos dos Meninos de Seu Zé? Não eram co-autoras?

E se plenamente verdadeira a assertiva de que as garotas seriam as autoras da frase. Isto será suficiente para serem co-autoras?

 E a frase não seria a grande responsável pelo sucesso? Não?

Aos olhos legais, sem se saber ainda os motivos da decisão judicial, há, no mínimo, excesso de garantia. Qual a razão de bloquear valores tão expressivos?

Somente pode ser piada ou o juiz não entendeu o que está a acontecer. Devia haver reclamação ao CNJ. Assim penso.

O TJ-PB deve suspender decisão tão surpreendente.

Quanto ao guia, se estiver a ler este texto, mantenha contato. Poderemos ganhar uma boa grana. Explicarei oportunamente.

Por final, se alguém devia receber a maior bolada este alguém é o português.